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domingo, 28 de outubro de 2012

A Falta de Confiança

A Falta de Confiança

Os cortes nos orçamentos dos organismos sob tutela do estado têm sido gerais.
O País vive uma crise profunda, é imprescindível  assegurar uma gestão o mais cautelosa possível e o mais ponderada! O planeamento e a estratégia que cada responsável define, para a Instituição que gere, tem que ser reflectidamente delineada .
Isto é evidente!
Não se pode admitir que, em situações tão difíceis como as que se vivem neste momento, seja o governo a criar instabilidade acrescida, seja o governo a impedir uma boa gestão.
Não é possível criar, em todos os sectores da sociedade, esta total incapacidade de planear por haver sempre uma "mudança desconhecida que espera por si!"

Estes considerando são válidos quer para os organismos do Estado quer para os Privados.

Temos que ser ainda mais rigorosos em tempos de crise! Temos que planear, com antecedência, para cenários diferentes que tentamos prever com a máxima exactidão!
É dificil entender que seja o governo que impede este esforço!

Neste momento, vem isto a propósito do novo (!?) (ou do desconhecido) corte feito no orçamento das Universidades e Politécnicos!

É intolerável:

  • Tornar insustentável o normal funcionamento das Instituições;

  • A falta de diálogo;

  • Que o ministério, segundo notícia do público, tenha sido apanhado de surpresa

  • Que se tenha alterado o que foi acordado;


Principalmente, como poderemos ter confiança, seja no que for?
Como se pode ensinar planear e gerir sem que se saiba qual a realidade que nos espera?

No gráfico abaixo, comunicado do CRUP de 24 de Outubro, podemos realizar a dimensão dos cortes, o definido em Julho e os que se lhe seguiram sem qualquer “pré-aviso”.





Desde 2005 que o orçamento desce SEMPRE, tirando o ano de assinatura do contrato de confiança 2010 (mas mesmo esse foi sujeito a inúmeros cortes).

Poder-se-á questionar, como têm sobrevivido as Instituições de Ensino Superior Portuguesas?
A resposta é fácil, à custa do aumento de receitas próprias!
Têm feito o seu trabalho, têm -se modernizado, têm conseguido novas fromas de financiamento, têm aumentado a sua ligação às empresas, mas há limites e, principalmente, há limites à falta de CONFIANÇA! Há limites aos entraves colocados a uma gestão equilibrada e planificada.
Esse é neste momento o maior problema!
Nas jornadas parlamentares conjuntas PSD/CDS com o governo, Nuno Crato disse que terá que haver fusões, consórcios, extinções, enfim, referiu que é urgente repensar a REDE!

Claro que é, mas este é um debate que, ao fim de um ano, já devia estar iniciado! Este é um problema que parece evidente, há muito tempo.

  • É necessário repensar a rede;
  • É necessário repensar a oferta;
  • É necessário repensar o financiamento;
  • É necessário repensar o enquadramento jurídico disto tudo;
  • É necessário saber como minorar o impacto social que esta política trará;

Mas, se nada for feito, e continuarmos como até agora, o sistema colapsa!

A questão é:
  • Em que ponto deste debate estamos?
  • O que tem feito o governo?
  • Que diálogos já iniciou?
  • Que estudos já fez?
  • Como pretende abordar esta questão?

Não sabemos NADA! Para variar…!

Mas é, não só a nossa vida (docentes, não docentes e estudantes) que está em jogo, como é também a sobrevivência das populações que vivem em cidades em que existem Instituições de Ensino Superior, é também a mudança radical da vida nessas localidades e, principalmente, é a vida das gerações FUTURAS.

É um problema que afecta populações autarquias e o País no seu todo!
E estamos sem ter uma leve ideia do que se pensa fazer….

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A CONSTANTE "desinformação sobre o Ensino Superior"

A CONSTANTE "desinformação sobre o Ensino Superior"
Porque é que Portugal não tem orgulho na Ciência e no Ensino Superior?


A agência Lusa publicou recentemente a seguinte notícia:

Aumento de 101 milhões de euros para Ciência e Ensino Superior

Lusa 15 Out., 2012, 19:09
"A proposta de Orçamento de Estado para 2013 para o Ensino Superior e Ciência prevê um aumento da despesa consolidada de 101 milhões de euros em relação ao valor estimado para este ano."

Parece poder deduzir-se deste título que, num orçamento que é esmagador para os Portugueses, o Ensino Superior e a Ciência ficaram de fora da austeridade. Se alguém tiver presente que os Reitores e os Presidentes dos Politécnicos se queixaram da dotação orçamental que lhes tinha sido anunciada parece que foram ouvidos e que o Governo veio, contrariamente a outros sectores, aumentar a dotação orçamental das Instituições de Ensino Superior.

Quando se lê o resto da notícia percebe-se que tal não é verdade o aumento verificado decorre principalmente da reposição do 13º mês e de um reforço na Acção social.

A pergunta que faço é: Qual a vantagem de "desinformar"?
Era desejável que fosse verdade, mas não é!

Os números reais para o ensino superior têm sido:

·         Entre 2004/2005 e 2009/2010, o número de diplomados nas universidades públicas passou de 25.283 para 38.323, tendo aumentado 52%;
·         Entre 2004/2005 e 2010/2011, o número total de inscritos nas universidades públicas passou de 173.897 para 193.106, tendo aumentado 11%;
·         Entre 2005 e 2011, o financiamento real do Estado para as universidades públicas diminui 13%.

 
Fontes: GPEARI-MEC; Reitorias das Universidades Públicas
Notas: A distribuição das verbas de cada Orçamento de Estado foi indexada ao ano lectivo cujo fim ocorre no ano de execução desse orçamento. Por exemplo, os valores do OE 2005 foram indexados ao ano lectivo 2004-05, os valores dos OE 2006 foram indexados ao ano lectivo 2005-06 e assim sucessivamente; O financiamento real do Estado é calculado em termos comparáveis a 2005 (considerando actualizações salariais, contribuições para a Caixa Geral de Aposentações, corte da dotação OE em virtude das reduções salariais em 2011 e cativações em 2011).

Podemos adicionar a estes números que em 2012 a dotação orçamental teve um decréscimo de 8,5% e que em 2013 sofreu mais um corte médio de 2,5%.  

Se olharmos para o relatório da OECDE Education at a Glance 2012 podemos verificar, que Portugal está longe da média dos países da EU e dos países da OCDE em todos os níveis de Educação. No Ensino Superior a média dos países da OCDE é de 30% de licenciados (em todos os grupos etários) a média na UE27 de 28%. Portugal tem 14%.


Em 2010 considerando a população, entre 25-64 anos, que obteve educação terciária a média dos países da UE 27 é de 28% sendo 35% na faixa etária entre 25-34 anos; Em Portugal estes valores são de 15% e 25% respectivamente. Nos países da OCDE estas médias correspondem a 20 e 35% respectivamente.

Os números de Portugal continuam a ser quase que assustadores não só em relação à media Europeia como à media dos países da OECDE.
E a Educação é factor de crescimento definitivamente!

No entanto, a taxa de emprego aumenta com o grau de educação, contrariamente, talvez pelo baixo número de recursos humanos que têm ensino superior, Portugal até aparece bem colocado (pelo menos parecia) neste indicador. Enquanto que a % de empregados com educação secundária é de 83.5% em homens e 76.5% em mulheres a média na UE é 79,1 e 67,5 e nos países da OCDE 83,7 e 74,4. No ensino Superior a média de empregados é de 85,9% em homens e 85,1 % em mulheres sendo este valor na UE21 de 88 e 81,1% e na OCDE 88,3 e 79,3.

Apesar do pouco investimento que tem sido feito em Educação ainda é compensador estudar e ganhar qualificações (ou era)!

Estudar traz consigo um valor acrescentado. Apesar do sistema nacional incluir propinas, apesar de todos os outros custos associados a obter uma licenciatura, o retorno era evidente. Em Portugal a taxa de retorno era de 11,5% a média na OCDE é de 13,4% e a média na EU é de 13,6%. As discrepâncias nestes números estão principalmente nos impostos mais altos praticados em Portugal (já antes, agora ainda mais). Os números estão baseados na diferença entre pessoas com educação secundária ou pós secundária comparando com os que não atingiram esse nível de educação e dizem respeito a 2008.

Indiscutível é também o aumento do produto em Países com uma taxa de Educação mais elevada. Ou seja, ao aumentarmos o nosso nível de educação (de qualidade) estamos a contribuir para o crescimento. E é um crescimento sustentado porque assente em algo (recursos humanos qualificados) estável.
E precisamos crescer!
Acho que disso não há dúvidas!

Country
ISCED/growth
Average
Portugal
0/1/2
-0,51%
Portugal
3/4
0,36%
Portugal
5B/5A/6
0,81%
Portugal
Total labour income growth
0,68%
Portugal
GDP growth
0,97%



OECD average
0/1/2
-0,19%
OECD average
3/4
0,08%
OECD average
5B/5A/6
0,91%
OECD average
Total labour income growth
1,14%
OECD average
GDP growth
2,39%



EU21 average
0/1/2
-0,26%
EU21 average
3/4
0,01%
EU21 average
5B/5A/6
0,74%
EU21 average
Total labour income growth
1,11%
EU21 average
GDP growth
2,35%


Source: OECD. LSO Network special data collection on full-time, full-year earnings, Economic Working Group.

Mas realmente a nossa comunicação social não gosta do ensino Superior: no mesmo dia em que vem a notícia de mais 101 milhões de € para ensino superior também se apregoa o decréscimo de 3,8% no orçamento da educação (no geral). Ou seja só a Educação Superior teria sido "beneficiada".

Mas é tão mau jornalismo fazer isto!

Mas, se tivesse havido aumento, que não houve, seria justificado, seria compreensível, seria justo e devíamo-nos congratular com isso porque seria um indicio de que o governo se preocupa com o futuro, com os jovens e com a sua capacidade de se virem a inserir num mercado de trabalho, global, que é cada vez mais competitivo; mais ainda havia uma estratégia de crescimento!


Dias atrás também foi notícia "Professores do superior poderão ter aumentos em 2013" e podia-se ler:

"Os professores do ensino superior vão ficar a salvo dos congelamentos decretados para a função pública e, no próximo ano, a progressão na carreira destes docentes voltará a ser acompanhada dos respectivos aumentos salariais."


E sabe-se bem que é mentira, apenas vão ser remunerados por terem prestado provas de avaliação públicas (defendem tese de doutoramento) a que são obrigados pelo Estatuto da sua carreira a prestar e que lhes dão, por isso, "automaticamente" a subida na carreira. Não é sequer por decisão própria, é porque são obrigados, porque, contrariamente, quando fazem provas, públicas também, de agregação, as quais não são obrigatórias, é-lhes negado o aumento de vencimento a que por lei teriam direito.

Por isso a notícia, assim apresentada é tão injusta, tão errada e tão fácil de ter sido corrigida, basta perguntar!
E é tão mau jornalismo publicá-la deste modo!

Mas repito:
Porque é que os portugueses não têm orgulho na Ciência e no Ensino Superior?
Porque há tanta desinformação em relação a este assunto?

Nota: entretanto a notícia acima, ou seja o pagamento aos docentes que fizeram doutoramento, parece que foi retirada do OE 2013.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Sistema de Ensino Superior é demasiado GRANDE

O sistema de ensino superior é demasiado grande

 

No passado dia 5 de Outubro o Reitor da Universidade do Porto concedeu ao expresso uma entrevista, que pouco comentada tem sido, mas na qual afirma "O sistema de ensino Superior em Portugal é demasiado grande ".

Nada mais certo; é uma verdade inquestionável que, sistematicamente, todos nos recusamos a debater.

Conscientemente utilizei, no parágrafo anterior, o pronome no plural: "todos nos recusamos a debater", é pois útil definir quem somos TODOS.

Na sua entrevista José Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto, defende a intervenção do Ministério da Educação e Ciência na redução da oferta das instituições, que considera excessiva. Concordo totalmente mas é necessário que o CRUP (o conjunto dos Reitores, principalmente) o CCISP (o conjunto dos Presidentes dos Politécnicos), os representantes das Associações Académicas, os Sindicatos e a sociedade civil, de uma forma geral, se aliem a este debate.

Tal como eu vejo este assunto, todos temos uma ideia de que o sistema (a rede como se usa dizer) está desregulado, mas ninguém avança com propostas concretas e pró-activas que permitam, pelo menos, iniciar uma discussão ponderada e produtiva.

Sistematicamente o assunto vem à baila, mais ou menos por altura da discussão do orçamento e/ou da divulgação dos resultados do concurso nacional de acesso.

Aliás, até os media só se lembram que há Instituições de Ensino Superior nestes períodos do ano, que decorrem, geralmente, entre Junho e finais de Setembro.

Durante estes meses, ouvem-se queixas sobre as diminuições dos orçamentos, que são na realidade quase que escandalosas, e enchem-se páginas de jornais com números de cursos que ficaram com poucos alunos ou vazios.

Nunca, ou raramente, a propósito destes cursos vazios, qualquer órgão de comunicação social refere o facto de que fechá-los, como muitos argumentam, implicará despedimentos, também nunca se relaciona o "fechá-los" com a possibilidade de o orçamento ser mais bem distribuído pelos que restarem. Infelizmente, no geral, as notícias são vazias de conteúdo e destinam-se apenas a ser sensacionalistas.

Avançar com uma proposta para regular a rede, que permitiria ao contribuinte, a todos nós, poupar e tornar mais eficiente o dinheiro que o estado despende com sistema público de ensino superior, não se vê realmente (já aqui referi que a fusão da UTL com a UL não teve esse objectivo!).

E porquê esta inactividade?

Porque é difícil!

- O Ministério defende-se com a autonomia das Instituições de Ensino Superior;

- As Universidades, no geral, com o facto de estarem melhor do que os politécnicos;

- Algumas Universidades, em particular, defendem-se com o facto de serem "melhores" (leia-se terem mais alunos) do que outras, logo o problema não lhes diz respeito;

- Os politécnicos defendem-se com o facto de terem uma oferta "diferente" (essa diferença surge realmente quase que só, no entender dos mesmo politécnicos, a propósito deste debate);

- Os sindicatos, não querem mexer em algo que poderá, eventualmente, causar problemas laborais complexos e difíceis de resolver;

- As associações académicas apenas se ouvem, realmente, para reclamar bolsas de estudo e para se queixarem das propinas;

- Para os media vendem mais as notícias sensacionalistas;

- A sociedade civil está demasiadamente preocupada com o que se deve "cortar" nos outros para iniciar, a este propósito, uma discussão séria.


Na verdade José Carlos Marques dos Santos tocou nos pontos sensíveis:

- Oferta demasiada;

- Os mesmos cursos a menos de 40 km de distância uns dos outros;

- Cursos com número máximo de alunos de 20, economicamente insustentáveis;

 

Mas, e principalmente referiu também: "não defendo que se fechem as Instituições do interior …"

 E é neste ponto que tudo se complica! Porque alguma coisa terá que ser "fechada", ou terão que se fazer consórcios, terá que se partilhar corpo docente, enfim, há que ter uma IDEIA, uma visão sobre onde se quer chegar, como se pode lá chegar e quando se quer lá chegar!

 Resumindo:

A DISCUSSÂO tem que se iniciar, e já vamos tarde para isso, estamos há anos a reclamar de orçamentos e, se quisermos ser justos, sabemos que não há forma, na actual situação, provavelmente também nas anteriores, de o Estado conseguir transferir o orçamento que TODAS estas instituições necessitariam para poderem dar aos cidadãos o MELHOR ENSINO possível.

E é disso que necessitamos!

Como disse Nelson Mandela: "A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Relógio do Tempo Nunca Pára

O relógio do tempo nunca pára
A 2012/2103 segue-se 2013/2014

Em maio, fui convidada a intervir num encontro sobre Developing Inquiry based Science Education (IBSE): the roles of assessment and the relationship with industry, em Helsínquia.
O encontro foi organizado pela ALLEA (Federation of 53 National Academies of Sciences and Humanities) em colaboração com a IAP (Inter-academy panel global science education programme from Finland).
O objective principal era reflectir sobre vários temas de educação e ciência com especial enfoque para a chamada "Science Based Education".
Sobre este assunto muito haverá a dizer mas realmente o que quero realçar agora foi é a interessante apresentação de Mrs. Armi Mikkola do Ministério de Educação da Finlândia sobre a reforma educativa, que foi considerada uma base para que a Finlândia saísse da crise em que mergulhou em 1990. Apesar da crise, e durante a crise, o valor investido em Educação aumentou sempre (e ainda mais durante o período agudo da crise).
A base da reforma educativa da Finlândia assentou sobre os seguintes princípios:
1. A escola tem que ter qualidade e essa qualidade tem que ser assegurada para todos;
2. A reforma deve ser evolutiva e nunca revolucionária;
3. O sucesso das escolas tem consequências a nível sociopolítico e económico, e constitui uma responsabilidade de todos;
4. O respeito pelos profissionais da educação, professores e pessoal não docente, o seu envolvimento e a aplicação generalizada das boas práticas devem ser utilizadas para construir consensos e uma visão reformista.   

Perguntar-me-ão a que propósito vem, agora, este assunto?

Principalmente pelo ponto 2 (não que os outros não sejam igualmente importantes): a reforma deve ser evolutiva e nunca revolucionária!

Infelizmente, em Portugal, cada novo Governo (por vezes até o mesmo governo cada novo ano) entende revolucionar o sistema sem acautelar a inserção das medidas num planeamento estratégico e consensualizado. Esta prática conduz a um desperdício de tempo e de energia. Verificou-se, verifica-se, isso com a adopção da reforma de Bolonha, a acreditação dos cursos, o financiamento do ensino superior, o modelo estrutural das universidades.

Vejamos o que se passou em Portugal desde 2006:

a)                  Reforma de Bolonha
O Decreto-lei 74/2006 lança a reforma de Bolonha. 
Em 2007/2008 todos os cursos foram "adequados". Para tal foram "avaliados" pela DGES e reconhecidos, e novos cursos foram submetidos à DGES para aprovação.
O Decreto-Lei nº 369/2007 determinou a criação da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). A A3ES iniciou a sua actividade em 2009.
A partir de 2010 procedeu-se:
1.       À acreditação preliminar de todos os ciclos de estudo em funcionamento à data da criação da Agência;
2.       À acreditação prévia de novos ciclos de estudos e à preparação dos processos de auditoria dos sistemas internos de garantia da qualidade.
A partir de 2012 iniciou-se o primeiro período regular de acreditação de todos os ciclos de estudos.
Portanto, desde 2006, procedeu-se:
1.       A um registo, na DGES, para adequação de cursos;
2.       A um registo, na DGES, de novos cursos;
3.       A uma acreditação preliminar, pela A3ES, dos cursos anteriores;
4.       A uma acreditação prévia de novos ciclos, pela A3ES
E…. finalmente
5.       Ao primeiro período regular de acreditação.
(basicamente estamos, quase sempre, a falar dos mesmos cursos)
Todos estes processos ocuparam tempo, implicaram trabalho, mobilizaram recursos e pesaram nos orçamentos.  
Ninguém refilou mas, na realidade, houve um ENORME CUSTO imputado às Universidades que não foi por elas decidido, e que deriva do facto do Dec-Lei 74/2006 ter saído antes do Dec-Lei de criação da agência em 2007; ou seja, é da inteira responsabilidade do Ministério.
E os orçamentos foram sempre baixando…anualmente!
Há neste processo um final feliz! Os cursos aprovados pela A3ES têm, como que, um selo de qualidade.
Em reunião de 13 de Junho de 2012 do European Consortium for Accreditation (ECA), a Agência A3ES foi aceite como membro do Consórcio, passando a subscrever o acordo de cooperação ECA para o período de Janeiro de 2012 a Junho de 2015.
Ou seja, o reconhecimento de qualidade nacional é de âmbito internacional.
Chegamos pois à conclusão que, podendo haver diferenças de qualidade entre os vários cursos nas várias instituições, pelo menos ultrapassam um limiar mínimo de qualidade.  

b)                  Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior

Ainda em 2007, foi publicado o “Novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior” RJIES (Lei n.º 62/2007).

De acordo com esta Lei, as instituições de ensino superior refizeram os seus estatutos (envolveu tempo/trabalho=custo). Passados 4 anos, segundo a mesma lei, as IES poderiam rever os seus estatutos. A Lei instituía a título facultativo o regime fundacional. Várias Universidades debateram o assunto (em reuniões que envolveram tempo/trabalho), ponderaram, reflectiram, reuniram-se com o ministro com o secretário de estado; enfim: reflectiram e investiram esforço.
Três universidades (U. Porto, U. Aveiro e ISCTE) optaram por aderir a este modelo, com todas as consequências que daí adviessem (vantagens e inconvenientes)
Ao passarem a Fundações, as Universidades assinaram contratos-programa com o Governo, ao abrigo dos quais receberam “fundos” cujos montantes se situam 20 a 60 milhões de € (os contratos não estão disponíveis).
Os contratos tinham a duração de cinco anos (aproximadamente vigentes até 2014-2015).

Estas Universidades investiram, durante 5 anos (desde a tomada de posse dos seus C. Gerais), tempo e energia para que as decisões de adesão a um modelo de organização, que a Lei lhes facultava, fossem democraticamente legitimadas.

Finalmente...
Em 2 Agosto 2012, na cerimónia de assinatura do Protocolo de fusão entre UTL e UL, o ministro Nuno Crato afirmou que o governo "proporá, no âmbito da revisão do regime jurídico das instituições de ensino superior, a extinção do actual regime fundacional e a criação de um novo regime de autonomia reforçada" à semelhança daquele que é pretendido pelas duas instituições que agora se irão fundir.  

A seco! Assim de repente!
Na reunião com os Reitores, de 3 de Agosto de 2012, Nuno Crato, garantiu que a intenção de criar um novo sistema de autonomia reforçada, que na véspera anunciara, levará em linha de conta "o que as universidades-fundação já conseguiram", disse ao Expresso o reitor da Universidade de Aveiro: "O nome fundação cai, mas mantém-se nesse regime tudo o que as universidades-fundação já conseguiram, nomeadamente, as vantagens do ponto de vista de gestão e acrescentou, penso que não podia ser de outra forma".
Pois eu penso que para ser desta forma não valia a pena a "confusão"!
Realmente já não se sabe afinal como vai ser!?
Parece que o RJIES vai ser revisto (passaram 4 anos desde as aprovações, pelas Instituições, dos novos estatutos) no momento em que as Universidades estão a começar a aprovar as primeiras alterações aos anteriores estatutos ou seja, após reflectirem e interiorizarem o novo modelo (o RJIES) vão (iam?) fazer as primeiras correcções!

Ninguém refila mas, na realidade, haverá, mais uma vez, um ENORME CUSTO imputado às Universidades que não foi por elas decidido, e que deriva do facto de uma lei estruturante para as IES, o RJIES, se vá alterar 4 anos após ter sido aprovada quando ainda não pode haver, efectivamente, uma avaliação correcta dos seus erros ou das suas virtudes.

c)         Novo modelo de financiamento

O que despoletou a reunião de 3 de Agosto do CRUP com Nuno Crato foi o novo corte orçamental de 2%, em média, previsto para 2013.
As regras para atribuição das dotações estatais foram diferente este ano (mas serão diferentes ainda para o ano)!
Na definição do orçamento para 2013 "o que se fez foi utilizar uma fórmula com peso de 15% (para os dados de 2012), ficando a distribuição histórica com peso de 85%", revela uma fonte do Ministério da Educação e Ciência.
Uma fórmula "construída de modo a reflectir a situação de cada instituição num dado momento: número de alunos e respectivos cursos, custos com pessoal docente e não docente".
Nada explica, objectivamente, por que razão esta fórmula é melhor que a anterior (também nunca se explicou porque se assinou um contrato de confiança (o governo anterior) e nunca se cumpriu, porque os contratos com as Universidades Fundação (assinados pelo governo anterior) não estão a ser cumpridos por este governo, nem porque contratos programas pontuais assinados com objectivos específicos com algumas Instituições também não têm sido cumpridos).
Recorde-se que Nuno Crato, ministro da Educação e Ciência, tinha prometido alterar o modelo de financiamento do ensino superior este ano.
Mas ainda não foi desta! O ministério admite que "este não é o modelo para o futuro".
O mecanismo utilizado no cálculo das verbas teve como objectivo fazer a "correcção parcial das distorções acumuladas por anos de aplicação do histórico, ou seja, variações iguais para todas as instituições", sublinha fonte do MEC.
Garante-se que esta fórmula corrigiu distorções (sejam elas quais forem porque há anos que a formula utilizada não está fixa)!
Ou seja, mexeu na fórmula, sem explicar primeiro e mesmo sem explicar porquê, mas sabe-se que esta "mexida" não é para manter, para o ano há mais!
O quê?
Não sabemos!

Sabemos que:
·                     É impossível delinear estratégias a longo prazo, porque o governo não tem uma estratégia a longo prazo!
·                     É impossível prever orçamentos, logo delinear planos de actividade, porque tal como de uma ano para o outro se pagou S. Social, ou acreditação de cursos ou b-on e FCCN, por exemplo, sempre que entenderem farão pagar, o que quiserem, porque não há uma estratégia a longo prazo por parte do governo!
·                     Sabemos que o País atravessa uma crise ENORME!
·                     Sabemos que as Universidades/Fundação assinaram contratos-programa com o governo (que o governo não cumpriu correctamente em alguns casos) que envolveram verbas à volta dos 60 milhões €.
·                     Sabemos que todos os cursos em funcionamento nas Universidades públicas foram avaliados pela A3ES; 
·                     Sabemos que a UTL e a UL querem ser a maior Universidade do país e querem uma autonomia reforçada (não sabemos o que isto quer dizer!); 
·                     Sabemos que os orçamentos brutos desceram regularmente desde 2005 se bem que os salários, tirando recentemente, iam aumentando, e os custos de tudo, energia, bens alimentares, telefones etc.. .também (pelo que o decréscimo de financiamento é ainda maior).

Não sabemos:
·                     Se o governo vai deixar que o sistema se "auto-regule" asfixiando, lentamente, as universidades do interior?
·                     Se o governo faz tensões de ter uma elite no litoral e deixar o interior a "sobreviver"?
·                     Se o governo tem uma estratégia para o Ensino Superior ou se prefere deixar perder uma geração?
·                     Não sabemos que alterações vai haver no RJIES nem para quando?
·                     Que alterações terá o modelo de financiamento nem para quando?

Gostávamos de ter tempo para nos podermos "adequar" à visão do governo, se ele a quiser definir de uma forma aberta, para podermos delinear uma estratégia coerente e com tempo e a longo prazo!
Gostávamos de não estar sempre a "inventar a roda"!
Gostávamos de ter uma reforma evolutiva, (não revolucionária) consensual e, que se acordasse em fazer um pacto de regime para a Educação Superior.
Vem nos Livros: não é possível delinear uma estratégia se nunca se sabe o que vai acontecer, ou com que podemos contar.
Já em 29 de Outubro de 2010 escrevi aqui:
Vamos tentar pensar no futuro!?
Passaram dois anos, temos menos dinheiro, a crise instalou-se definitivamente, e NADA REALMENTE aconteceu que faça pensar que há uma estratégia sem ser "deixar morrer de asfixia financeira as Universidades mais pequenas e assim regular o sistema!"
Não é justo para quem lá trabalha, não é justo para quem lá estuda, não é justo para as regiões!
Principalmente, não é justo para o País que se demore tanto tempo a resolver esta situação!