Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma viagem ao interior do U-Map e U-Multiranking

                                                                                                         
U-Map é um projecto financiado pela Comissão Europeia destinado a desenvolver "um método de classificação" das Instituições de Ensino Superior na Europa.

Tecnicamente,  o programa foi concebido de modo a se conseguir um Profilefinder  que nos permita compararmo-nos com outras Instituições de Ensino Superior de características semelhantes às nossas. O referido perfil constrói-se a partir de um conjunto de indicadores e características selecionadas por cada Instituição.

Portugal fez parte do grupo "exploratório". O trabalho iniciou-se em Março de 2011, de comum acordo com o CRUP o APESP e o CCISP, e com o suporte informal do Ministério (o qual forneceu alguns dos dados). O projecto foi finalizado em Setembro de 2011.

A realidade portuguesa foi analisada, e tentativamente adequada, numa workshop realizada em Abril de 2011 na Universidade Lusíada em Lisboa. Também aí foram discutidos os pormenores técnicos da aplicação do  projecto.
Desta workshop foi produzido um relatório.

Em Outubro de 2011, foram apresentados os resultados do estudo, em Portugal, e para Portugal (U. de Aveiro 10 de Outubro de 2011), os quais constam do relatório final.


No total, 75 Instituições de Ensino Superior foram convidadas a participar neste estudo preliminar; 58 responderam positivamente; 52 enviaram dados; mais de metade concordaram em que os dados fossem divulgados.

Para uniformização dos dados algumas questões foram discutidas:

1. Graduados (o que se deve incluir?)
2. Discrepância verificada com os dados recebidos via RAIDES, como superá-las?
3. Despesas com investigação e outras actividades: como separá-las?
4. Publicações (o que se inclui?)
5. Financiamento público directo para ensino vs. investigação (como separá-lo?)
6. "Income" regional (que se entende por região?)
7. Patentes (o que incluir?)
8. Spin-offs/Concertos & Exposições (que definições foram usadas e como se devem definir de forma homogénea?)

Uma das questões mais debatidas foi a definição de publicações peer reviewed, e o que cada instituição considerou como sendo peer reviewed.
Houve bastantes discrepâncias no que cada Instituição incluiu nesta rubrica. De acordo com a equipa U-Map, apenas a base ISI é considerada; o que suscitou divergências entre os pontos de vista expressos por muitas Instituições.

Para os dados de publicações profissionais, exposições, concertos, etc., o principal óbice reside na dificuldade da sua categorização ou seja, não há bases de peer review.

No entanto, e tendo em consideração estes constrangimentos, e cientes de que haverá "arestas a limar", foi feita uma primeira análise.
Os gráficos 1a e 1b mostram o número de respostas recebidas para cada item do questionário.

Gráfico 1a: número de instituições que apresentaram valores> 0 para um dado indicador (número total = 38)


1Em alguns casos, como por exemplo o número de graduados em doutoramento, algumas instituições apresentaram o valor zero; é o caso dos politécnicos, sem que isso corresponda a "missing data" pelo contrário é o espelho da realidade.

Gráfico 1b: número de instituições que apresentaram valores> 0 para um dado indicador (número total = 38)



Pelos dados recolhidos apercebe-se que muitas instituições não têm "meios" ou não têm dados que permitam responder com segurança às questões colocadas no questionário U-Map.


Os perfis de cada Instituição são considerados, de acordo com os indicadores apresentados.


A figura seguinte é um exemplo de um "possível" perfil.   

Figura: Ilustração dos perfis U-Map  



Durante o workshop de apresentação dos resultados (Aveiro Outubro 2011) foram feitos alguns exercícios de definição de clusters de agrupamento que mais se adaptariam às Universidades portuguesas. Nas tabelas seguintes apresentam-se alguns desses agrupamentos bem como a sua definição.  

Foram igualmente propostos:

·                     Universidades/Faculdades/Departamentos/Institutos, de Ciências Aplicadas.
·                     Instituições de cariz profissional.
·                     Instituições com perfis de formação flexíveis.
·                     Universidades/Faculdades/Departamentos/Institutos de "ensino" (teaching).
·                     Instituições "equilibradas" ou "horizontais".

Houve ainda um grupo de trabalho que identificou, ou agrupou, os clusters de acordo com a apreciação dos estudantes:  

  1. Instituições flexíveis especialmente orientadas para estudantes M23, em regime part-time ou à distância.
  2. Ciências Aplicadas/ com orientação profissional.
  3. Instituições orientadas para uma carreira de investigação.

Não há realmente, nem pode haver, um modelo único de classificação. No fundo, cada Instituição determina o seu perfil e agrupar-se-á com outras "mais ou menos" semelhantes. A definição dos critérios está dependente do que cada Instituição considerar como mais importante para si própria de acordo com a estratégia que tem, ou quer vir a aplicar.

Conclusões:

·        O U-Map é capaz de tirar uma "fotografia" a cada Instituição.
·        Irá permitir que cada instituição se posicione no contexto correcto.
·        Pode ser uma ferramenta útil para definição de uma estratégia, (no fundo, como estamos? para onde queremos ir?)
·        Pode ser uma ferramenta útil para permitir ao público, em geral, um conhecimento mais aprofundado de cada Instituição no momento de realizar uma escolha (seja ela qual for).
·        Permite obter uma informação multidisciplinar e abrangente.
·        É bastante mais objectivo do que os actuais rankings.
·        Não fornece qualquer informação acerca da qualidade objectiva de cada instituição.
·        Permite identificar o perfil Institucional mas não o compara com outras (em termos de performance) de perfil idêntico.

De uma forma geral foi criticada a não existência de um ranking final (para detalhes ver comentários) mas, na realidade, o U-Map não pretende fazer um ranking. Pretende-se com este programa ajudar as Instituições a conhecerem-se, a compararem-se com outras semelhantes, a delinearem uma estratégia, sabendo de onde partem e possibilitando-lhes monitorizar se estão, ou não, a chegar onde pretendem.

A maior crítica aponta para o facto de o U-map, não sendo uma ferramenta de ranking, poderá induzir a que as Instituições se venham a "comparar" baseadas nestes resultados.

Pode!


U-Multirank

O projecto "irmão" de U-Map, é o U-Multirank. Este pretende, quando totalmente operacional, ser uma ferramenta internacional dirigida a aprofundar o conhecimento sobre cada Instituição de Ensino Superior. Contrariamente ao U-Map o U-Multirank é uma ferramenta de avaliação da performance das Instituições.

O projecto U-Multirank pretende avaliar Instituições nos seus vários perfis, ou seja os actuais rankings são muito orientados para investigação, produção científica e esquecem, de forma mais ou menos importante, a função docência e transferência de tecnologia, bem como o carácter regionalista e/ou internacionalista de cada Instituição.

Mas precisamos de todos estes perfis!

No mundo actual podemos considerar que, os actuais rankings desprezam uma parte importante da missão das Instituições de Ensino Superior. Se consideramos a diversidade uma mais-valia temos que ser capazes de a avaliar e valorizar!

É isto o  U-Multiranking!

O projecto U-Multirank está dirigido a dois níveis 1) A instituição no seu conjunto, 2) O aspecto científico.
De uma amostra de 159 IES (2/3 Europeias) mais de cem forneceram dados. Estes dados foram utilizados para a identificação de cerca de 30 indicadores e, a partir daí, para a construção de perfis institucionais de performance. Um exemplo desses perfis é apresentado na figura abaixo.  



Apesar de o projecto não ter ainda totalmente identificados os "indicadores ideais" o teste decorreu satisfatoriamente.

O processo de ligação entre as duas ferramentas compreende, portanto, duas etapas: inicialmente através do U-Map posicionamo-nos com as "nossas semelhantes", baseados em critérios definidos pelos próprios: só depois nos iremos comparar com as instituições seleccionadas, em termos de performance (mais uma vez seleccionando o impacto de cada um dos critérios que definimos).

Os testes, "rankings personalizados", são apresentados em forma de tabela (Performance chart).

O comunicado da Comissão Europeia na agenda sobre a Modernização das Universidades  (‘Supporting Growth and Jobs: An agenda for the Modernisation of Europe’s higher education systems’ COM (2011) 567/2), reafirma que o projecto U-Multirank pretende "melhorar radicalmente a transparência do sector do ensino superior e terá os seus primeiros resultados em 2013 (próximo ano)....." (ver página 11 do comunicado) .
As Instituições que enviaram os seus dados (para o U-Map)  têm acesso ao seu perfil, utilizando o login e a password fornecido a cada Instituição.

A Pergunta que coloco é:

Queremos continuar assim?                                                                      ou

queremos encarar o mundo                                                          de frente?



Links úteis:









                                                                                                                                        

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Bolonha e as Universidades: uma estratégia ou apenas um "acordo"?

Bolonha e as Universidades: uma estratégia ou apenas um "acordo"?


No passado dia 30 houve mais uma conferência ministerial sobre BOLONHA.
Ao todo já aderiram a este "processo" 47 países da Europa e não só!

No entanto, mesmo quem já aderiu, como Portugal, continua a descrever BOLONHA como sendo, unicamente, uma simples alteração do número de anos para concluir uma Licenciatura, um Mestrado ou um Doutoramento.

Mas não é!

Com "Bolonha" começou-se a projetar uma Europa diferente, a pensar mais longe e iniciou-se um processo que poderá, um dia, conduzir-nos à criação do Espaço Europeu de Ensino Superior (EHEA).

Se juntarmos a isto a consolidação, prevista para 2014, das "regras"  para o que virá a ser o Espaço Europeu de Investigação (ERA), conseguiremos, provavelmente, na Europa, constituir um "Mercado Comum" de Educação e Ciência (e desculpem a expressão Mercado) o que só poderá conduzir a um maior fortalecimento, uma maior competitividade e um maior reconhecimento das nossas Instituições de Ensino Superior e de Investigação; logo um futuro melhor para as gerações futuras.

Parece uma moda falar em competitividade mas, na realidade, a Europa está a perder algum terreno nestas áreas, tem falta de graduados em áreas importantes, tem muita boa investigação fundamental mas tem falta de transferência para empresas, produz poucas patentes viáveis.

E isto é a Europa, não estou a falar de Portugal!

A Europa, tirando honrosas excepções, tem necessidade de modernizar a maioria das suas Instituições de Ensino Superior, de facilitar a mobilidade de docentes, investigadores e estudantes, de acelerar e tornar mais eficiente o diálogo Universidade: Investigação: inovação/Empresas.

A ERA tem que vir a ser um sucesso! Os objectivos deverão ser atingidos de forma consensual, pragmática e operacionalizáveis no terreno (a este propósito sairá um Comunicado da Comissão durante este mês).

E tem que se pensar também na EHEA.

O processo de Bolonha, ao qual eu sou favorável, (e sobre o qual tenho a certeza que ainda nenhum país conseguiu, sequer, atingir uma ínfima parte do que é proposto), tinha uma agenda visionária e ambiciosa: adequar os métodos de ensino aos "tempos modernos"; facilitar a mobilidade de docentes e alunos; fortalecer as Instituições de Ensino Superior facilitando o estabelecimento de parcerias entre elas; reconhecer aos estudantes as chamadas "soft skills" ou seja reconhecer que na maioria das circunstâncias da nossa vida, aprendemos; promover a qualidade e a avaliação da aprendizagem  e do ensino (transferência de conhecimentos) por métodos objectivos.

Mas, como já disse, falta quase tudo; tirando a "cosmética" do número de anos e de graus, pouco mais se fez:

·         a avaliação dos curricula dos cursos já é, em muitos casos feita por agências independentes (a "nossa"  A3ES), a avaliação de docentes, por outro lado, não é uniforme.

·         o reconhecimento de competências, ou das "soft skills" não é homogéneo, os créditos das unidades curriculares estão atribuídos sem qualquer relação com o esforço solicitado ao estudante, e a decisão de "passar" ou "chumbar" continua a estar dependente, na maioria dos casos, de um exame final.

·         os estudantes obtêm um diploma, com um suplemento que pretende informar sobre as "soft skills". Contudo, entre as instituições de um mesmo país, os critérios são díspares e, muitas vezes, não se reconhecem os créditos adquiridos noutras instituições estrangeiras ou nacionais: se o estudante beneficiou da mobilidade Erasmus, mesmo assinando um acordo prévio, muitas vezes não se reconhecem os créditos adquiridos na outra Instituição (a este propósito, inclusive, saiu uma reportagem no SOL de 7/6/2012);

·         se em vez de créditos ou de unidades curriculares, nos referirmos a graus, então o panorama entre Países ainda é pior.

Para além de muitos outros aspectos, o reconhecimento de graus continua a ser uma miragem!

Na última reunião de Ministros, em Bucareste, como em tantas outras, discutiu-se e aprovou-se um comunicado que vinha sendo debatido, entre as partes, desde há perto de seis meses.

O importante foi que, na véspera da aprovação, foram introduzidas pequenas alterações, posteriormente ratificadas, que, na minha opinião, são o primeiro sinal de que virá a ser possível termos um EHEA.

A alteração a que atribuo maior significado foi o acordo para introduzir, no comunicado final, o desejo de se vir a conseguir, ainda que a prazo, o reconhecimento automático de graus comparáveis.

A esta alteração foi adicionada uma outra para que seja constituído um "grupo de países que estude e explore os meios necessários para se vir a conseguir o tal "(long term) reconhecimento automático", primeiro entre os países que constituam o tal grupo, alargando-o de seguida a outros que o desejem.

Considero este, provavelmente, o maior passo para se vir a constituir efetivamente um Espaço Europeu de Ensino Superior e que possamos, realmente, configurar a Europa como o mercado de trabalho alargado para os nossos jovens.

Acho este o maior passo para podermos evoluir não só no ensino, mas também na investigação científica e na capacidade criativa e de inovação.

Acho que, atingir este objectivo, será um marco significativo para o ensino superior na Europa.

O grupo de países, do tal grupo "explorador", inclui todos os que se dispuserem a embarcar nesta aventura!

Portugal devia estar neste grupo!

LINKS: principais documentos da reunião Ministerial,  Bucareste Abril 2012